[Resenha] Torto arado - Itamar Vieira Junior


Ano de publicação:2019

Editora: Todavia

Número de páginas: 264

 

Olá leitores, como estão? A resenha de hoje é sobre um livro nacional que com toda certeza merece todo o hype que vem alcançando. Considerado por muitos “um futuro clássico”, Torto arado vem conquistando leitores e foi o livro mais vendido na Amazon (Brasil) em 2021.

Bibiana e Belonísia são irmãs. Ambas vivem com a família no sertão baiano, em Água Negra. O pai das meninas José Alcino, conhecido como Zeca Chapéu Grande, trabalhava arduamente nas terras para manter seu sustento e apesar de não saber ler nem escrever, lutava muito para que as crianças tivessem acesso a educação.

“Meu pai não era alfabetizado, assinava com o dedo de cortes e calos de colher frutos e espinhos da mata. Escondia as mãos com a tinta escura quando precisava deixar suas digitais em algum documento. De tudo que vi meu pai bem-querer na vida, talvez fosse a escrita e a leitura dos filhos o que perseguiu com mais afinco. Quem guardava as crenças do jarê acharia que eram os bens maiores de sua existência. Mas pessoas como nós, quando viam o orgulho que sentia dos filhos aprendendo a ler e do valor que davam ao ensino, saberiam que esse era o bem que mais queria poder nos legar”. Pág. 66

Apesar da abolição da escravatura já ter terminado, os moradores do local eram muito explorados pelos donos das fazendas, afinal, eles trabalhavam e tinham que cumprir várias regras, como a da proibição de construir casas sólidas, apenas de barro e dar a maioria do lucro que tinham com as plantações a seus patrões. A maioria dos donos das terras nem visitavam o lugar, apenas deixavam seus encarregados responsáveis por colher os impostos dos moradores.

Donana mãe de Zeca era uma mulher forte, enfrentou muitas provações ao longo da vida. Como os pais trabalhavam na terra, era a avó quem cuidada das irmãs. Certo dia, curiosas sobre o que Donana guardava em uma bolsa embaixo de sua cama, as meninas aproveitaram o descuido da avó e foram bisbilhotar.

Fascinadas com um objeto que encontraram, mal podiam imaginar que naquele momento suas vidas seriam mudadas para sempre. Enrolada em um pano sujo de sangue, a faca tinha um brilho encantador e as meninas nunca tinham visto nada tão bonito.

Que gosto teria aquele objeto brilhante? A curiosidade pela “herança familiar” da avó, causou um acidente divisor na vida das jovens....

Esse é apenas o início da narrativa que honestamente? É um dos melhores livros nacionais que li nos últimos tempos. A escrita de Itamar é arrebatadora, forte, poética.

“Nasceram ervas e flores minúsculas em meio à umidade que surgiu com o orvalho e com a chuva que caía quando era da vontade dos santos. Fiquei atenta a tudo o que acontecia, sabia que nada retornaria. Olhei com certo encantamento o tempo caminhando, indomável como um cavalo branco”. Pág. 195

É um livro enriquecedor, daqueles que não conseguimos largar e nos apegamos aos personagens e toda a sua dor, graças a escrita do autor que nos coloca dentro da história e somos inundados por um sentimento muito forte de empatia.

“Nós moramos na periferia da cidade, e lá os policiais usavam a mesma desculpa de drogas para entrar nas casas, matando o povo preto. Não precisava nem ser julgado nos tribunais, a polícia tem licença para matar e dizer que foi troca de tiro. Nós sabíamos que não era troca de tiros. Era extermínio”. Pág. 221

O povo de Água Negra é batalhador, corajoso e apesar das inúmeras dificuldades, sempre tentam buscar o melhor para os seus e trabalha incansavelmente de sol a sol, em terras que jamais serão suas.

Esse é um livro culturalmente muito rico, somos apresentados a várias intervenções culturais sobre o povoado local.

Eu nem sei o motivo de ter demorado tanto para ler Torto arado, pois apesar de saber pouco sobre a obra, tinha a sensação de que iria amar. E amei e foi longe de ser pouco. Quando realizamos a leitura de um livro nacional tão gigante, somos preenchidos de um sentimento imenso de orgulho. Cinco estrelas e favorito da vida.

Até a próxima resenha!

Angélica Silva, 31 anos, jornalista e resenhista do Portal Estante da Josy. Apaixonada por livros, músicas, séries e filmes. Não necessariamente nesta ordem.

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