[Resenha] É assim que acaba - Colleen Hoover
Autor (a): Colleen Hoover
Editora: Galera Record
Número de páginas: 366
Olá, leitores! Tudo bem com vocês?
A resenha de hoje talvez seja a mais difícil que já escrevi
aqui para o blog. Em seu romance mais pessoal, Colleen Hoover aborda de forma
brutalmente honesta uma temática difícil, que incomoda por ser tão real e foge
da minha zona de conforto. Além disso, “É Assim que Acaba” ainda vem com um
desafio a mais: tomar cuidado com os spoilers que podem estraguar a sua leitura
porque, se existe uma coisa que esse livro nos entrega, é uma experiência
arrebatadora.
Logo no primeiro capítulo conhecemos Lily após o funeral de
seu pai. De cara já descobrimos que a relação entre os dois era ruim e ela não
guarda boas lembranças dele, muito pelo contrário. Todo esse ódio e
ressentimento se baseiam em uma série situações traumáticas que Lily presenciou
desde a infância até o momento em que se mudou de cidade para cursar
administração.
E aqui vai um aviso importante: esse livro contém GATILHOS.
Ao longo das páginas nos deparamos com várias cenas de violência doméstica,
sexual e psicológica descritas em detalhes. São cenas pesadas e que podem
afetar quem é sensível a esses temas ou está passando por algo semelhante.
Voltando à trama... Nesse mesmo dia, enquanto tenta lidar com
os sentimentos despertados pelas memórias do pai, ela conhece Ryle, um
neurocirurgião bonito e interessante, que a ajuda a suavizar seus problemas em
poucos minutos de conversa.
O caminho dos dois se cruza de novo algum tempo depois e Lily
se dá conta de que Ryle despertou nela algo que imaginava se incapaz de sentir
novamente por outra pessoa. Isso por que Atlas, seu primeiro grande amor, ainda
é um capítulo inacabado em sua vida, capaz de trazer à tona lembranças doces e
ao mesmo tempo extremamente dolorosas.
A narrativa é toda feita pelo ponto de vista da protagonista
e se alterna entre passado e presente através de seus diários. A versão de 15
anos de Lily nos arranca algumas risadas, mas é por meio das passagens mais
difíceis de seus anos de adolescência que vamos entendendo como sua
personalidade se moldou naquele lar problemático e a fez definir muito bem suas
convicções. Até agora.
Na jornada para conseguir conquistar o sucesso com sua tão
sonhada floricultura e bem longe da cidade natal, Lily percebe que finalmente
está feliz. Sentindo-se realizada também na vida amorosa, ela enxerga um belo
futuro à sua frente... No entanto, existem coisas que simplesmente fogem ao
nosso controle e ela se vê em uma posição que jurou nunca ocupar, colocando à
prova toda a sua autoconfiança.
“Penso que, às vezes, por mais que você esteja convencida de que sua vida vai seguir determinado rumo, toda certeza pode sumir com uma simples mudança de maré.” (p. 209)
Lily sabe que se culpar para justificar os comportamentos
violentos de outra pessoa é um caminho sem volta e só pode acabar mal, mas como
parar de sentir um amor que está tão enraizado? Se preparem para um livro denso
e impossível de largar, que nos leva por uma viagem pela mente da protagonista
enquanto ela tenta reencontrar a si mesma.
“Não paramos de amar uma pessoa só porque ela nos magoou. Não são suas ações que magoam mais. É o amor. Se não houvesse amor ligado à ação, a dor seria um pouco mais fácil de suportar.” (p. 316)
Colleen não apenas explora a cruel realidade da violência
doméstica, mas também propõe um olhar mais sensível e menos crítico sobre as
mulheres que enfrentam esse tipo de problema todos os dias e não conseguem dar
um ponto final ao próprio sofrimento.
Lily se faz esse questionamento diversas vezes, já que ela
mesma nunca entendeu como a mãe suportava continuar casada. Será que essas mulheres
são tão frágeis quanto aparentam? A verdade é que as coisas podem se complicar
muito mais quando não estamos lidando com pessoas essencialmente más e ainda
existem sentimentos bons envolvidos. No fim das contas, é necessária muita
coragem para desistir de sonhos, planos e expectativas, em especial quando não
há uma rede de apoio à sua volta.
“Mas às vezes não dá para controlar a própria mente. É preciso treiná-la para nunca mais pensar a mesma coisa.” (p. 42)
Não me entendam mal, jamais vou defender que uma mulher deve
se submeter a tais situações seja pelo motivo que for e, definitivamente,
romantizar relações abusivas não é o objetivo da autora. A questão aqui é
apenas ter empatia e, se em determinado momento testemunharmos algo do tipo,
sermos capazes de compreender e ajudar.
Confesso que criei algumas teorias mirabolantes sobre o
desenrolar da trama, mas a grande surpresa foi descobrir que o poder dessa
história está na maneira simples e direta como ela é contada, tornando impossível
não se afeiçoar aos personagens e seus dilemas, mesmo quando sentimos raiva
deles.
Antes dos agradecimentos finais, Colleen nos presenteia com
uma nota na qual compartilha o quão difícil foi escrever “É assim que acaba”
justamente por ser baseado em sua própria vida. Sabem aquela sensação de “soco
no estômago”? Foi assim que encerrei essa leitura que desperta reflexões e emoções
conflitantes a cada capítulo e merece todos os elogios que vem recebendo desde
seu lançamento.
Meu primeiro contato com a escrita viciante de Colleen Hoover não poderia ter sido melhor. E que venham os próximos!
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