[Resenha] A democracria dos ausentes, Um exercício de cidadania - Rafael Moia Filho

"A democracia dos ausentes - Um exercício de cidadania"; autor: Rafael Moia Filho, Editora Scortecci; 200 páginas.

Estamos em ano de eleição, que momento seria mais propício para falarmos sobre a importância da nossa democracia e o ato de votar?

Hoje em dia não podemos mais dizer que não simpatizamos com política. Política não é hobbie ou gosto pessoal, política é exercício de cidadania e deveria estar inerente a todo ser humano com idade e capacidade de votar. Pensar que não faz diferença é exatamente o que faz o coletivo seguir com a ideia e não sair do lugar. A mudança começa de si mesmo e se você não se propor, quem vai?

O livro fala sobre política sem ser tendencioso, partidário ou parcial. Durante toda sua narrativa o autor se concentra em apresentar fatos concretos e históricos. E de forma muito discreta o autor consegue alfinetar alguns políticos e algumas personalidades de eleitores. Consegue dar aquele famoso “tapa de pelica” que com certeza causa aquele reconhecimento imediato. O que ele fala é real, presente no nosso dia a dia e que, muitas vezes, ignoramos ou não damos muita atenção.

“Isso é História, isso é a verdade de um país que nunca teve um sistema de regime comunista, mas que teve governos de centro, direita na maioria dos períodos 1889 e a chamada esquerda governou entre 2003 – 2016. Portanto, se reveste, de muito desconhecimento dizer que poderemos ou estivemos na iminência de viver um sistema de governo comunista. Coisa de gente mal instruída, mal intencionada, muito mal informada e que, ao tentar justificar governos ruins, tentam amedrontar pessoas simples e sem estudo com essa falsa alegação de regime comunista”. 

A cada capítulo que eu ia lendo eu ia notando o quanto meu “desinteresse” por política é uma coisa tola e perigosa. A cada alfinetada do autor, eu sentia aqui. E nunca senti que uma leitura conversou tão profundamente num momento tão certo como essa. Informações que eu sabia e muitas mais que eu ainda desconhecia. Fatos importantíssimos que devem ser refletidos sobre nós e aquele inevitável reconhecimento sobre coisas ao nosso redor e do nosso convívio.

“Sabemos que 99% da Constituição Federal não é do conhecimento da maior parte da nossa população. Os governantes a lembram quando quererem justificar suas mazelas”. 

[...]

“A explicação infelizmente não consta dos manuais, nem dos livros, e, está na péssima qualidade e no DNA dos nossos políticos desde sempre, pois ao alcançarem o poder, fazem a opção de não levar ao povo a informação, pois sem ela, o povo fica como demonstrado no livro de José Saramago “Ensaio sobre a Cegueira”: totalmente perdidos e sem rumo.” 

Ao ler esse trecho eu resgatei a história de “Ensaio sobre a lucidez” que li há algum tempo, livro esse que é sequência de “Ensaio sobre a Cegueira”, mencionado na página 30 de “A democracia dos ausentes”. Na época, mesmo pouco conhecedora de política, consegui identificar com facilidade as diversas críticas ao nosso sistema de governo. E também sobre a “ingenuidade” ou falta de informação do eleitor.

Não é citado no livro, mas eu poderia indicar também, como complemento de leitura, o livro “A revolução dos bichos” do autor George Orwell, um clássico que vai fazer uma crítica política em fórmula de fábula e passar uma mensagem que nos faz refletir sobre a cegueira que temos ocasionalmente diante de algumas propostas, muitas das vezes por simplicidade. E também sobre poder e manipulação. Uma ótima história para refletir.

“São muitas pessoas optando por não exercer seu direito adquirido depois de milhares de anos se pegarmos como referência a Grécia antiga. Leve em consideração que esse grande distanciamento do eleitor ocorre em um país onde o voto é obrigatório e cuja ausência às urnas expõe o faltoso às pesadas sanções do artigo 7º do Código Eleitoral. O que ocorreria, então, se o voto não fosse obrigatório?"

Já se perguntou o que aconteceria se todos votassem em branco ou nulo? Você sabe o que acontece quando você vota nulo? Você já ouviu falar de “fundo partidário” e de “puxador de votos”? Se você tem o costume de votar em branco ou anular sem voto, vai mudar totalmente de postura ao ler a explicação do autor sobre isso. O voto nulo não poderia anular uma eleição. Mas seu voto branco/nulo poderia arruinar uma.

É claro que a gente entende que o motivo de cada pessoa tomar essa decisão de jogar fora o voto é pensar que nada fará a diferença, que ninguém poderá mudar a situação do país e nisso o autor mostra que a corrupção é uma coisa antiga e ao refletirmos não temos como discordar.

“A corrupção no Brasil existe desde a chegada das Naus portuguesas em Terras de Santa Cruz quando começaram a dar presentes aos índios (Propinas) em troca de iguarias que depois iriam virar ouro e minérios de todas as naturezas sendo extraídos do nosso solo e enviados à Corte em Portugal”. 


Mas lembre-se:

“O papel do cidadão não termina no ato da votação, ele continua por quatro anos, com o acompanhamento das ações dos eleitos, a fiscalização sobre o cumprimento das promessas de campanha e a cobrança sobre aquilo que não foi realizado ou está sendo feito de forma incorreta. Isso vale independentemente do seu candidato ter sido ou não eleito. Afinal, se você participa do processo, não importa quem vença, deverá ser fiscalizado igualmente.”

O livro possui tantas informações relevantes que acredito ser importante ter o exemplar em sua biblioteca - mesmo após a leitura completa - para fins de consulta. Ele possui uma coletânea de informações que deveriam ser adquiridas por todos os cidadãos. Talvez, tomar mais conhecimento, seja o que falta para cada um de nós colocarmos a mão na consciência e termos mais responsabilidade no momento de votar. Não é apenas um ato obrigatório, é um ato que faz uma diferença sim pra cada um de nós.

 

Utilidade pública

A obra traz também mais do que fatos, ele traz possíveis soluções e é bem didático ao fornecer opções bem interessantes para nos envolvermos mais no assunto. O autor lista uma série de aplicativos e de sites que podem ser utilizados para ajudar o cidadão e o eleitor a acompanhar, fiscalizar e poder cobrar os políticos eleitos. Ajudando o cidadão a participar da vida política do país. 

“Apenas com um smartphone você pode acessar qualquer um deles e se manter informado sobre os candidatos, seus trabalhos, performance e os governos em sua cidade, seu estado e no país. [...] Informação existe e mecanismos são muitos para que o eleitor esteja informado e possa acompanhar de perto o que acontece no país em termos de políticos e partidos. Falta na verdade é vontade de querer participar e mudar o que está acontecendo.” 

Confesso que fiquei muito curiosa com o aplicativo que dá “match” em um político que possui ideologias parecidas com a sua. Acredito que pode facilitar muito no momento de escolher, principalmente, um político que estará atuando mais próximo de você, como um vereador, por exemplo.

Além disso, se você deseja ingressar na carreira política, o autor indica três cursos que você pode fazer para preparo intelectual e que podem te favorecer no desempenho das funções do cargo, são eles: Direito, Ciência Política e Administração.

Parece loucura, mas esse livro realmente conseguiu mexer comigo e descobrir uma eleitora que estava adormecida dentro de mim. Somos todos politizados, alguns em maior ou menor grau e ter lido esse livro fez despertar meu senso político e a vontade de ter minha participação mais ativa.

E mais uma dica: se você está planejando prestar concurso público, assim como eu, leia “A democracia dos ausentes”, acho que vai te acrescentar muitas informações valiosas.

 
Siga o autor: @rafaelmoiafilho


27 anos, jornalista e fundadora do Portal Estante da Josy

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