[Resenha] O acordo - Elle Kennedy

Resenha: O Acordo (Amores Improváveis)

Autor (a): Elle Kennedy

Editora: Paralela

 de páginas: 360

Tirem as crianças da sala porque hoje a resenha é sobre um new adult daqueles... “O Acordo” é o primeiro livro da série “Amores Improváveis” ou no original “Off Campus”, como também é bastante conhecida pelos fãs aqui do Brasil. 

Sabem aquele clichê de filme da seção da tarde? Faculdade, festas regadas a muita bebida, atletas e líderes de torcida... Enfim, todos esses ingredientes fazem parte da história, porém nada como uma narrativa escrita para nos prender e um enredo que, apesar de simples, é extremamente envolvente.

E já que estamos falando de jovens norte-americanos universitários no auge dos 20 anos, vale ressaltar que muitos palavrões e altas doses de cenas sensuais com bastante descrição recheiam as páginas desse livro. Os fãs de new adult já estão mais do que acostumados, mas sei que muita gente pode não se sentir confortável quando encontra esses elementos na trama, então acho válido avisar que a autora não economizou nesse quesito, mas fique tranquilo porque a história não se resume apenas as cenas hot.

Nesse romance nós conhecemos Hannah, uma aluna de música e Garrett, o astro do time de hockey da Briar University. Teoricamente os caminhos dos dois jamais deveriam se cruzar, mas a necessidade de melhorar sua média em filosofia para não ser impedido de jogar, coloca Garrett no encalço de Hannah e de sua espetacular nota 10 na primeira prova.

Ele está desesperado para que ela seja sua professora e ajude a gabaritar no próximo teste, o problema é que Hannah parece ser imune ao charme de Garrett, um dos alunos mais populares da faculdade e que jamais falhou em derreter corações. Como um verdadeiro atleta, ele não desiste facilmente, porém para conseguir dobrar a teimosia da musicista, o capitão do time precisa encontrar algo que ela queira em troca das aulas particulares. Hannah recusa todas as propostas até que, após muitas idas e vindas, algo lhe chama atenção e ambos selam um acordo.

Durante as aulas, ela vai percebendo que Garrett é bem diferente da imagem de ogro ignorante que tinha projetado. Ele se acha irresistível? Sim e muito, mas de uma forma divertida e tão sincera que é impossível não se apaixonar (tanto a Hannah, quanto nós). Já o nosso atleta que visualiza um futuro perfeitamente traçado e tem verdadeiro pavor de se desviar de suas metas, aos poucos se vê desejando passar mais tempo a sós com ela, sua tutora que virou amiga e agora desperta sentimentos conflitantes que põem à prova a sua regra de não encarar um namoro até ter se estabelecido.

“Às vezes, as pessoas entram na sua vida e, de repente, você não sabe como foi capaz de viver sem elas antes. E já não consegue entender como vivia a vida, saía com os amigos e dormia com outras pessoas sem ter essa pessoa importante na sua vida”. (p.234)

Eles desenvolvem uma dinâmica engraçada e cheia de troca de farpas, já que não há expectativa com relação ao outro. Ambos sofreram diferentes formas de abuso e carregam um passado traumático, o que os leva a ter dificuldade em baixar a guarda e confiar nas pessoas, mas a relação de honestidade que constroem ao longo das páginas vai derrubando lentamente cada barreira erguida e deixando o caminho livre para novos sentimentos.

E aqui vai um alerta de gatilho: a autora aborda alguns temas mais pesados (como estupro, por exemplo), não de maneira muito aprofundada, mas ainda assim, podem ser difíceis caso você seja mais sensível ou tenha enfrentado situações parecidas às vividas pelos personagens.

Mesmo passando por experiências horríveis, tanto Garrett quanto Hannah não descontam a sua frustração e raiva nos outros, eles buscam ajuda, desejam seguir em frente e deixar as dores do passado onde elas devem ficar. Isso me encantou na história dos dois, a maturidade com que lidam com seus problemas, já que em tantos outros livros do gênero encontramos personagens agindo de forma extremamente irritante.

“E a lição mais importante que aprendi é que não sou uma vítima, mas uma sobrevivente” (p.30)

Duas palavras me vieram à cabeça em diversos momentos da história - cumplicidade e superação. Parafraseando o clássico da internet: é sobre isso! Os dois ansiavam por encontrar essas qualidades em si mesmos e naquela pessoa com quem poderiam dividir os momentos e as lembranças boas e ruins. Hanna, em especial, é uma protagonista forte e íntegra, o que me deixou feliz porque não esperava encontrar esse tipo de reflexão na trama e, mais do que isso, a abordagem que Elle Kennedy decidiu seguir ao retratar suas questões.

Apesar de não inserir diversidade em seus personagens, a autora questiona alguns estereótipos e, mesmo se utilizando de situações previsíveis, a forma como eles reagem a elas é um pouquinho diferente. Principalmente Garrett, que está longe de ser o mocinho idealizado ou o bad boy que encontra redenção quando conhece o verdadeiro amor, muito pelo contrário, ele é direto, sarcástico e responsável ao mesmo tempo em que mantém o senso de humor e um charme difíceis de resistir.

“O Acordo” é uma história leve (com exceção das cenas hot kkk) do tipo que você lê em um final de semana para se divertir e esquecer da realidade, sem a pretensão de chegar a grandes questionamentos. Exatamente o tipo de leitura que eu tenho procurado durante a pandemia.

Menção honrosa aos amigos com quem Garrett divide a casa e que protagonizam os próximos livros da série. Todos são divertidos e, mesmo estando longe de serem perfeitos, não são os hipócritas que poderíamos imaginar, já estou ansiosa para encontrá-los novamente.

Isabela Colucci, 26 anos, jornalista, colunista e resenhista do Portal Estante da Josy. Jornalista por formação, sempre fui apaixonada pelo universo da literatura, então poder trabalhar com isso é o meu sonho de princesa. Sou bastante curiosa quando o assunto é moda, por isso, vocês vão me ver falando bastante sobre o tema por aqui. E claro, como não poderia faltar, algumas doses de cultura pop.

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