[Resenha] Mauricio – A História que não está no gibi

Resenha: Mauricio – A História que não está no gibi
Autor
(a): Mauricio de Sousa
Editora:
Sextante (Selo: Primeira Pessoa)
Número
de páginas: 300
Presença
constante e parte importantíssima da educação de tantas crianças
pelo Brasil afora, é difícil ler a biografia de Mauricio e não
sentir aquele “quentinho no coração”. A inevitável sensação
de familiaridade com os personagens que ele trata com tanto carinho
até hoje, ganha ainda mais sentido quando vamos descobrindo os
caminhos pelos quais ele percorreu até que a turminha mais famosa do
país chegasse às nossas mãos.
“[...] fui construindo um relacionamento próximo com a garotada e me tornando parte de sua infância, como um personagem querido. Essa ligação emocional com o público, meu maior patrimônio e meu maior orgulho, não tem preço.” (p.139)
Em
um relato não linear, o primeiro capítulo já conquista pelo
título. É com um sonoro “Desista, Menino!”, que damos início à
leitura da história de um jovem talentoso, marcada por incontáveis
desafios, mas que, felizmente, nunca seguiu esse conselho.
“Em 1954, meus sonhos eram basicamente feitos de esperança. Claro que tinham uma pitada de ambição, mas eu não sonhava em ser rico ou coisa parecida. Eu só queria um dia pagar minhas contas, sustentar a família com meus desenhos, ter reconhecimento profissional.” (p.12)
A
vida simples do interior de São Paulo serviu (e continua servindo)
de inspiração para as peripécias dos personagens e que ajudou a
dar forma e vida ao bairro do Limoeiro. Aos poucos descobrimos
detalhes sobre seu nascimento rodeado de circunstâncias
interessantes (que não vou detalhar por aqui para não soltar
spoilers) e também sobre as influências que moldaram seus gostos
para literatura, música, cinema e, acredito ser a sua maior paixão
no universo do entretenimento, as HQs.
Sua
mãe talvez tenha sido uma das maiores responsáveis pelo amor de
Mauricio pelas histórias em quadrinhos. Foi ela quem o ensinou a ler
por meio das HQs e esse fascínio ganhou o status de objetivo. Ele
queria viver daquilo, não sabia como e nem se conseguiria, mas fato
é que não tinha como deixar de lado aquela vontade.
Entre
mudanças de cidade e muitas coincidências, acasos ou obras do
destino – como você preferir chamar – Mauricio se tornou
repórter da Folha de SP e ali deu os primeiros passos para o que
viria a ser a Turma da Mônica. Cheia de altos e baixos, a trajetória
narrada do artista deixa claro que parte da nossa sorte vem da
persistência e que de nada adianta o mundo estar à nosso favor, se
não damos o primeiro passo.
Aliás,
o que não falta neste livro são exemplos de quanta persistência
ele precisou ter para colocar a turminha em circulação e poder
sustentar a família com seu talento. Até de comunista ele foi
acusado, o que fez seu nome ir parar na lista negra de todos os
grandes jornais de São Paulo, impedindo-o de publicar seu trabalho.
Mas nem a iminente falência o fez desistir do sonho.
“No futuro, sobretudo a partir de 1964, os críticos diriam que os personagens da turminha eram alienados, que o mundo podia cair que eles não assumiriam posições. Sim, é isso mesmo. Eles são crianças, não fantoches ideológicos.” (p.77)
Felizmente
para nós, os personagens foram ganhando espaço nos jornais do
interior e algum tempo depois em publicações de outras capitais
pelo país. No início dos anos 60, após muito trabalho, o projeto
de um suplemento infantil levou seus desenhos de volta para São
Paulo e assim nasceu a Mauricio de Sousa Produções.
Mais
do que a narração sobre a sua vida, em cada passagem nós não
apenas conhecemos mais sobre a história dele, como também somos
guiados em uma visita pelo ambiente social, político e cultural da
época pela visão de alguém que viveu e participou ativamente
desses momentos. Mais do que isso ainda, o livro é um prato cheio
para os amantes de quadrinhos. Mauricio fala sobre o surgimento
conturbado desse universo no país e também no mundo, sobre como
funciona o mercado nacional e internacional das HQ’s, bem como o
incentivo à artistas brasileiros.
“Amo demais o que faço e, enquanto tiver energia e lucidez, continuarei indo todos os dias ao estúdio, assobiando enquanto ando pela empresa e muitas vezes sendo o último a apagar a luz”. (p.287)
Quanto à família, Mauricio foi mais sincero do que eu esperava -
afinal é natural tentar não evidenciar nossas falhas quando falamos
sobre nós mesmos – porém fui surpreendida com por um relato
sincero sobre sua obsessão pelo trabalho, as idas e vindas dos três
casamentos e seus dez filhos, o que rendeu momentos de decepção
até, mas que o tiraram um pouco do pedestal que muitas vezes
colocamos as pessoas que admiramos.
Particularmente,
um trecho que me deixou bastante comovida foi quando ele falou sobre
suas amizades. Tímido, Maurício nunca foi dado à muitos amigos,
apreciava ficar sozinho com os companheiros das HQs – em especial,
os criados pelos seus ídolos Will Eisner, Hergé, Al Capp, Lee Falk,
Alex Raymond, Hal Foster... E qual não foi a surpresa quando ele
encontrou um de seus melhores amigos do outro lado do mundo, no
Japão? A passagem sobre Osamu Tesuka, considerado o pai do mangá e
criador de personagens como Princesa Safiri e Astro Boy, me fez
derramar algumas lágrimas.
Luís
Colombini transcreveu o depoimento de Mauricio de um forma tão
natural que a sensação é de que estamos conversando com ele,
compartilhando dos sentimentos de alegria, tristeza e frustração
que preenchem as páginas. A leitura fluida, envolvente e intercalada
por várias fotos vai conquistar até quem não é lá muito fã de
biografias.
Não
deixe de colocar na sua lista de desejados, até a próxima!
Compre:
Olá, Protótipo! Tudo bem?
ResponderExcluirFiquei imensamente feliz do Portal Estante da Josy estar nessa lista maravilhosa! E gostei muito da ideia. Caso queira conversar conosco sobre parcerias ou qualquer outro tipo de projetos e/ou ideias, pode nos enviar um email para contato@estantedajosy.com.br
Estamos à disposição!
Beijos,
Josy Souza
Oi, Josy!
ResponderExcluirQue bom encontrar aqui esta resenha. Li esse livro no início desse ano e fiquei encantada com essa história, mesmo porque eu sempre amei os gibis do Maurício e quando meus filhos eram pequenos, fiz assinatura até quando estavam adolescentes. Todos nós gostamos de suas obras, na verdade, acho difícil encontrarmos alguém no Brasil, que não tenha tido algum contato com os personagens e as divertidíssimas histórias do Maurício de Sousa e a turma do Limoeiro.
Adorei seu blog e sua postagem.
Grande abraço,
Drica.
Ah, obrigada pelo comentário, Drica! Fico feliz que gostou da postagem.
ExcluirRealmente é difícil encontrar quem não conheça os personagens da turminha, eles são maravilhosos.
Abraços,
Isabela