[Resenha] Objetos cortantes - Gillian Flynn
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Obrigada por seu chefe, Camille,
uma jornalista, teve de voltar a sua cidade natal para realizar uma matéria
sobre o assassinato de uma garotinha e o desaparecimento de outra. Relutante a
ter que voltar para a casa de sua mãe e para aquela cidade que traz lembranças ruins,
ela encara o desafio. A recepção não é nada calorosa, como ela já previa, mas
esse era apenas uma das coisas que começaram a incomodar.
“Este lugar faz coisas ruins comigo. Eu me sinto... errada.”
A mãe de Camille, Adora, é como
uma bonequinha, toda perfeita e impecável e sempre fez de sua família essa
perfeição. Marian, a filha que ela teve depois de Camille, morreu muito jovem
sob os cuidados constantes da mãe que até hoje não se recuperou da perda.
Camille nunca despertou o mesmo cuidado na mãe e foi embora da cidade assim que
teve oportunidade. A mãe teve outra filha, Amma, que assim como Marian, se
tornou a bonequinha de Adora.
“-Uso isto por causa de Adora. Quando estou em casa sou a bonequinha dela.
-E quando não está?
-Sou outras coisas”.
Um lar anormal em meio a uma
cidade anormal que está em luto e em desespero para esconder suas crianças. Logo
a garota desaparecida também é encontrada morta. Ambas possuem coisas em
comum: foram estranguladas e tiveram todos os seus dentes arrancados.
A polícia não quer se pronunciar,
a vizinhança está muito apavorada para apontar suspeitos, mas está claro que é
um morador dali. Quanto mais Camille busca respostas, mais é contaminada por
aquela cidade. Nada parece normal ali, todas as pessoas são peculiares e
guardam segredos.
“Algumas vezes, se você deixa as pessoas fazerem coisas a você, na verdade você está fazendo a elas [...] Entende o que quero dizer? Se alguém quer fazer coisas esquisitas com você, e você permite, você as torna mais perturbadas. Então você tem o controle. Desde que não enlouqueça.”
Camille tem palavras cortadas
sobre todo o seu corpo e esse é o maior segredo dela. Desde muito jovem ela
começou a se mutilar, mas agora conseguiu parar. Entretanto, todas as marcas
continuam a assombrá-la e queimam sob sua pele sempre que passa por uma
situação semelhante a que a fez marca-la em seu corpo. Caminhar por essa cidade
é como acionar suas palavras cortadas a cada passo, a cada nova descoberta.
“E se você ferisse por ser tão bom? Como se você tivesse uma comichão, como se alguém deixasse um interruptor em seu corpo, e nada pudesse desligar o interruptor a não ser ferir? Sabe o que isso significa?”
O livro surpreende por trazer
relatos tão pesados de uma família que se apresenta como tradicional, mas que
carrega segredos e bizarrices. A mãe tem uma espécie de mania em que ela tira
todos os cílios da pálpebra quando está nervosa e essa cena, particularmente,
me deixou angustiada. Isso somado ao fato de que a protagonista tem o corpo inteiramente
cortados com palavras dá ao livro um clima sombrio e angustiante.
A narrativa enriquecida em
detalhes não tem pudor, descreve os personagens enfatizando suas peculiaridades
e surpreende por apresentar um plot twist de arregalar os olhos. É uma leitura
que não deve ser feita por crianças ou por pessoas que se impressionam
facilmente. Assusta ao mesmo tempo que surpreende, cativa e impressiona.
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