[Resenha] Breve história da arte - Roberto Salgado de Carvalho

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“Breve história da arte popular”; autor: Roberto Salgado de Carvalho; editora: Diagrama; 122 páginas.

Antes de começar a falar sobre a obra, eu gostaria de apresentar o autor dela. Roberto Salgado de Carvalho nasceu no Rio de Janeiro em 1959, formou-se professor de Educação Artísticas e lecionou em comunidades em Santa Cruz e no Andaraí. Radicou-se desde 1987 nos EUA, trabalhando como professor de Educação Artística primeiro na capital e, atualmente, no estado de Maryland. Publicou dois livros sobre arte brasileira e, como pintor, participou de exposições nos EUA, Canadá e Europa. Algumas de suas obras podem ser vistas nos acervos de museus em São Paulo, Rio de Janeiro, Canadá, França, Itália e Suíça.

Para realizar esse livro, o autor fez muitas pesquisas, o que pode ser visto pela extensa bibliografia. E por isso mesmo posso dizer que ele tem propriedade para falar do assunto e não é toa que digo que esse livro é uma verdadeira obra completa.  

Em “Breve história da arte popular” o autor nos convida a conhecer a história da cultura subterrânea do Rio de Janeiro no Século XX, os seus artistas, suas vivências e, principalmente, a forte influência de outros países sobre tudo isso. É preciso relembrar o contexto histórico da época: a escravidão e a colonização portuguesa. O Rio era a cidade que mais recebeu negros escravizados na humanidade. Resgatando aqueles conhecimentos de história, vamos ligando os fatos e entendendo como isso influenciou na cultura que já existia.

De toda a cultura que vieram dos nossos antecessores, a mais famosa internacionalmente por dar continuidade cultural é o carnaval carioca. “Durante o carnaval, pelo menos teoricamente, as distinções sociais e raciais são abolidas”.

“Salta aos olhos a grande capacidade da periferia para assimilar influências e transformá-las em uma forma de arte original. Exemplo disso é o Carnaval, que combina artes visuais, música e dança em uma festa popular impregnada de superação e resistência.”

No decorrer da obra, Roberto faz uma crítica, com base nos fatos, ao modelo de cultura colonizado que fomos adquirindo ao decorrer do tempo. Um artista que não se adaptasse a esses “moldes importados” não ganhava reconhecimento e dificilmente seria lembrado. Muitos artistas precisavam reinventar sua arte e fizeram assim as tradições reinventadas, que sofreram alterações, mas persistiram até os dias atuais, temos como maior exemplo o samba. “O estilo de música afro-brasileira mais popular do Rio de Janeiro durante o século XX. O seu ritmo é obviamente de origem africana, enquanto as suas melodias geralmente tristes revelam a influência portuguesa”.

De forma bem dinâmica, o autor exemplifica na prática mostrando comparativos de artes importadas e artes imitativas. As artes originais e as “inspirações”. Para exemplificar ainda mais, ele expõe dois artistas brasileiros e analisa suas obras. Noel Rosa e Heitor dos Prazeres. E conta um pouco sobre como acontecia os “ajustes” da arte na época, os que se rebelavam usando algumas “artimanhas” para expor sua crítica sem deixar totalmente óbvio. O poeta, por exemplo, cria analogias e é perspicaz na escolha das palavras.

“É possível criar uma poesia verdadeiramente nacional usando o idioma do colonizador? Sim, desde que a linguagem cotidiana e a psicologia do povo estejam presentes, responde Noel neste samba”

O autor nos apresenta também algumas curiosidades que me chamaram muito a atenção. Sabia que a arte do Ziraldo, criador do Menino Maluquinho e o Maurício de Sousa, criador da Mônica, foram influenciados por artistas americanos?

“É inegável que o talento, por exemplo, dos criadores da bossa nova contribuiu para sua aceitação no estrangeiro. Mas no Brasil a pressão para importar sempre venceu e serviu geralmente para ocupar o espaço que mereciam ter os criadores das camadas populares.”

Não se trata de um livro acadêmico, apesar de poder ser usado como tal, se trata de um relato muito preciso sobre a nossa história e sobre as influências que passaram por ela para termos acesso ao que lemos, vemos ou ouvimos hoje. A nossa cultura é riquíssima e é maravilhoso termos cada vez mais conhecimento sobre ela.

Como dizia um antigo e querido professor meu: Estudar história é necessário para conhecermos o passado, compreendermos e presente e modificarmos o futuro. E a história da arte ainda vai longe, somos arte e ainda temos muita história para contar.


27 anos, jornalista e fundadora do Portal Estante da Josy

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