Historiando as Fotonovelas no Dia Mundial da Fotografia

Para alguns, esse post vai provocar uma grande nostalgia e, para outros, despertar uma curiosidade sobre esse sucesso do passado

Hoje, 19 de agosto, é o dia Mundial da Fotografia. E para relembrar um pouquinho da importância da fotografia no nosso cenário literário, vim recordar (ou apresentar, se for o caso) um pouquinho da história das Fotonovelas.

Fotonovelas são novelas em quadrinhos que utilizam fotografias em vez de desenhos, de forma a contar, sequencialmente, uma história. Surgiu nos anos de 1940, na Itália, em revistas que publicavam adaptações de filmes para os quadrinhos. A semelhança com as telenovelas se deve à popularização do cinema e, claro, à fama dos atores e atrizes.

A característica principal das histórias é a intriga familiar ou sentimental, geralmente com uma protagonista de origem humilde que luta por um amor impossível e que consegue seu final feliz no encerramento da narrativa. Os estereótipos estão sempre muito presentes, assim como questões que eram consideradas comuns na década de 50. Inclusive, era comum encontrar publicidades de produtos de atividade doméstica, visto que era predominante o consumo dessas obras pelo público feminino (e naquela época a mulher era a que tinha obrigação de cuidar do lar, mas isso é uma discussão para outro post).

No Brasil, a primeira revista a investir nesse formato foi a Encanto. Nos anos 1970, mais de 20 revistas de fotonovelas chegaram a circular no Brasil, publicadas por várias editoras: Bloch, Vecchi, Rio Gráfica, Abril e Prelúdio, sendo que a Bloch produzia suas fotonovelas no Brasil, com a revista "Sétimo Céu", ao contrário de diversas outras que importavam as histórias da Itália.

Diversos atores, músicos e apresentadores brasileiros passaram por essas fotonovelas, pessoas como: Roberto Carlos, Tarcísio Meira, Glória Pires, Vera Fischer, Wanderlei Cardoso, Edson Celulari, Lídia Brondi, Jerry Adriani, Vanusa, Wanderléia, Ney Latorraca, Cauby Peixoto, Claudio Cavalvanti, Maysa Monjardim, Ângela Maria, Betty Faria, Mário Gomes, Jardel Filho, Francisco Cuoco, Carlos Eduardo Dolabela, Paulo Goulart, Antonio Fagundes, Sandra Brea, Elisabeth Savalla, Vandean Pereira, Susana Vieira… e vários outros.

As principais revistas de fotonovelas no Brasil foram: Capricho (Editora Abril), Super Novelas Capricho (Editora Abril), Grande Hotel (Editora Vecchi), Ilusão, Noturno, Encanto, Fascinação, Contigo, Sétimo Céu (Editora Bloch), Carinho e Carícia.


A Capricho

A revista Capricho foi a primeira revista feminina do Brasil e da Editora Abril. Vendia quinzenalmente mais de 270 mil exemplares, sendo assim um grande exemplo de sucesso das fotonovelas. Em 1956 a revista alcançou mais de 500 mil exemplares por edição, atingindo a marca de maior tiragem de uma revista na América Latina até então.

Como possuía fotonovelas italianas, a “Capricho” também vendia em Portugal e colônias ultramarinas. “Super Novelas Capricho”, “Ilusão” e “Noturno”, vendiam, somadas, cerca de 280 mil exemplares mensamente.

Na década de 70 as fotonovelas, incluindo a Capricho, eram leituras frequentes de jovens adolescentes que consideravam esse gênero de leitura o seu lazer favorito. E na década de 80 a Capricho mudou seu foco de publicação para o público feminino jovem adolescente e passou a se denominar “A revista da gatinha”.

 

Você sabia que até mesmo o grande clássico “Orgulho e preconceito” teve uma versão em Fotonovela?


A obra clássica escrita por Jane Austen teve seu enredo adaptado para uma fotonovela produzida na Itália durante a década de 60. O ator Giacomo Rossi-Stuart (1925-1994) interpretou o papel de Mr. Darcy. A trama é de conhecimento universal e o exemplar da fotonovela dessa obra não é mais encontrado para venda.

No entanto, encontrei o exemplar em PDF pela internet e, como a história já está em domínio público, decidi compartilhar com vocês. O arquivo foi disponibilizado para download pelo blog: http://amantesdejaneausten.blogspot.com/ e para baixar você pode clicar aqui.

Vários outros clássicos da literatura também ganharam sua versão em Fotonovelas, como “O morro dos ventos uivantes”, “Jane Eyre” e muitos outros.

Pela minha experiência...

...ler uma fotonovela atualmente é como se você estivesse lendo um romance de época em quadrinhos. Porém, com uma trama bem supérflua. O formato me agrada bastante e acho que poderia ser reinventado com discussões mais modernizadas e tramas mais elaboradas, afinal, o fim das fotonovelas se deu a isso, ao suposto “pequeno valor artístico” pelo preconceito enraizado.

A produção das fotonovelas não acompanhou a evolução social. A partir da década de 60 já havia se iniciado as discussões sobre o amor livre, controle de natalidade, trabalho feminino reestruturado contrastando fortemente com as abordagens das histórias presentes nas fotonovelas que permaneciam enfatizando que o ideal feminino era a mulher como esposa, mãe e dona do lar. Como a revista não se atualizou, ela acabou perdendo seu público que já não se identificava mais com esses discursos.

“A fotonovela também é uma iniciação a uma ordem, uma socialização. Não esqueçamos o grande número de leitoras meninas, adolescentes ou pré-adolescentes que são introduzidas, pela fotonovela, a um mundo de relações adultas, do qual ainda não participam. Só que essa socialização não implica em grandes mudanças de atitude, pois a fotonovela insiste no conformismo a padrões como o meio de alcançar a felicidade” (Buitoni, 1977, p. 83)

De qualquer forma, esse formato fez história. Foi sucesso e marcou gerações. Talvez você que está lendo nunca tenha visto um exemplar, mas pergunte à sua mãe, sua avó ou bisavó? Pergunte qual foi a experiência dela ou delas. Você pode se surpreender com a tamanha importância que esse gênero teve na vida de leitor de muitas pessoas que relembram as histórias com saudade.

27 anos, jornalista e fundadora do Portal Estante da Josy

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