[Resenha] À sombra do Jatobá - R. C. Maschio
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Um livro sobre um tema tão difícil como a escravidão não poderia
ter uma narrativa mais sensível e emocionante.
Ercília é uma negra que teve seu bebê tirado de seus braços.
Ela, logo em seguida a morte de seu filho, foi vendida para outra fazenda onde
iria ser usada como “ama de leite” para duas garotinhas. Ercília, chamada por
Nanã pelas pequenas, desempenhava um grande papel na família sendo uma escrava
que vivia dentro da casa dos senhores, sendo responsável pela criação das
meninas Teodora e Cândida. Esta primeira sendo a de temperamento mais difícil,
sempre discutia muito com Nanã, mas o amor entre elas era nítido.
Somos apresentados ao passado da moça que sofreu muito,
Ercília, apesar de todas as dores pelas quais passou, se sente agraciada por
ter em sua vida essas duas meninas que proporcionam a ela muito trabalho, mas
também muito carinho. Ela está sempre ao lado, acompanhando o crescimento delas
enquanto ajuda a família com o preparativo de remédio com seus dons com ervas
medicinais e suas rezas bem efusivas.
Mesmo vivendo dentro da casa, Nanã não se sente diferente dos
outros escravos que vivem nas senzalas e está sempre por perto para ajudar. Ela
assistia de perto todas as injustiças, todos os castigos, as doenças que os afligiam
e as mortes inevitáveis. Muitas vezes por negligência. Ela é uma mulher muito
forte que vai amadurecendo e mostrando seu valor, mostrando que sua vinda ao
mundo não foi em vão, que ela tem um propósito e que iria cumpri-lo.
Paralelamente, outra personagem expõe toda sua força. Teodora
cresce e, com a maturidade, vai adquirindo conhecimentos e formando opiniões
fortes. Desde muito nova ela achava errado o fato de escravizar pessoas, mas
agora, com a mente formada, essa opinião só se intensificou, trazendo um desejo
de realizar algo grande, revolucionário.
“Afinal, meu Deus, sinto em meu coração que sou feita também por suas mãos. Então por que permite que o Branco trate todos nós de pele preta com toda essa maldade?”
Naquela época, era difícil uma mulher ser ouvida. Arriscaria
dizer que talvez fosse até impossível. E essa história é sobre várias mulheres,
negras e brancas, que impuseram seu lugar na sociedade, que revolucionaram com
seu jeito certo de pensar. Que desafiaram os perigos e encararam as
consequências por um bem maior. O destino delas pouco importava desde que
deixassem um legado de paz e justiça.
O relato é feito com uma narrativa tranquila, mesmo quando o
assunto é bem pesado. A autora sabe apresentar os acontecimentos, nos fazendo
refletir e até mesmo nos emocionar. A mensagem da obra é transmitida com
sensibilidade e empoderamento. Um livro que, independente da época, marca uma
grande fase do Brasil que será para sempre lembrada.
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