Jéssica Macedo responde críticas a seu novo livro “A Escrava e a Fera”

     Alvo de mais de 300 comentários, em sua maioria críticas negativas, Jéssica Macedo, autora de “Trilogia Mística”, se pronunciou em sua página no Facebook sobre a polêmica que envolve seu novo lançamento “A Escrava e a Fera”.
     Hoje (14/02), Jéssica Macedo decidiu se manifestar sobre o assunto e disse que a protagonista nunca foi estuprada e que não há alusão à violência na história, como alguns comentários sugerem.
Ela afirma que a sinopse será refeita, já que não apresenta a real proposta do livro, que “é a exaltação da força do povo negro” e das mulheres. A autora também anunciou que por conta das críticas construtivas que recebeu, ela irá trocar o nome do livro para “Amali e a Fera” (Amali é o nome da protagonista). Você confere a declaração completa da autora:
"Esta mensagem é uma resposta aos comentários relacionados ao meu livro “A Escrava e a Fera”, que está em pré-venda.
Eu demorei a responder porque, em função do Carnaval, estive viajando e só tive acesso à internet há algumas horas.
Eu não conseguir ler todos os posts nem comentários agressivos, mas percebi que, como autora, estou sendo acusada de de RACISMO e de ROMANTIZAÇÃO DO ESTUPRO.
Esse post terá muitos spoilers a respeito do livro, mas não há como explicar a minha proposta se eu não o escrever.
Minha pesquisa foi direcionada no intuito de produzir um livro que pudesse ser usado de forma paradidática, portanto em escolas do Ensino Básico, não há conteúdo sexual nem classificação etária.
Me ative aos movimentos e à cultura do Brasil na época retratada. Em momento algum eu quis denegrir a imagem dos negros. Tão somente descrevo a forma como eles (e consequentemente a protagonista) foram tratados durante a escravidão no Brasil.
Se houver alguém interessado em fazer a resenha do livro e dar a sua opinião, ficarei feliz em compartilhar o conteúdo.
A protagonista da história, Amali, é sequestrada na África, transportada por um navio negreiro e acabou sendo comprada pelo feitor de uma fazenda em Minas Gerais, onde é marcada a ferro.
O feitor é o responsável pelos escravos, já que o dono da fazenda, vive recluso no casarão depois que sua mulher faleceu num incêndio em que ele mesmo teve o rosto e as mãos queimados e, por isso, não sai mais em público. Ele é amargurado por ter perdido a esposa jovem e está envolto em culpa de sobrevivente.
Ocorre que a falecida, nascida na França, estava imersa em ideias abolicionistas da revolução francesa, mas , após o acidente, a fazenda ficou inteiramente aos cuidados do feitor que prezava pelos privilégios que a escravidão lhe proporcionava.
A nossa heroína começa, então a trabalhar dentro da casa grande, de onde irá questionar todo o sistema escravocrata mineiro e bater de frente com o dono da fazenda até que ele entenda o quanto está errado.
Resgatando o espírito de Liberdade, Igualdade e Fraternidade presente na sua falecida esposa e guiada pelas ideias abolicionistas de Amali, ele impede que um homem, fugido da fazenda, fosse castigado no tronco, apesar do costume da época.
Aos poucos, Fernando, o dono da fazenda vai se apaixonar por Amali, mas não pela sua aparência.
A protagonista nunca foi estuprada, como os comentários na rede social tentam adivinhar. Na verdade, o feitor, que é um velho hipócrita, tentará, mas será impedido pelo dono da fazenda, que ainda administrará uma bela surra ao homem. Ele receberá também a cólera diretamente das mãos dos homens que ele escravizou.
Fernando ficará admirado com a liberdade que aquela mulher defende, pelas suas ideias. E são essas características que o levam a se expor novamente em público pela primeira vez depois do seu acidente, afim de lavrar no cartório a carta de alforria dessa mulher, que, além da liberdade, ganhará também uma passagem de volta para África como presente de despedida.
Mas Amali sabe que não conseguirá encontrar o seu povo na África, porque não sabe dizer de onde foi tirada, então resolve ficar na fazenda e questionar a relação entre a sua liberdade e a dos demais que estavam sendo oprimidos juntamente com ela.
Pela sua luta, conseguirá que Fernando liberte todos os homens que escravizou e que dê a eles um pedaço de terra para cultivar sua própria fazenda.
Só então eles vivem seu amor.
Além disso, a protagonista criará uma escola na fazenda para alfabetizar os negros, mostrando todo o poder que estava dentro dela.
OBSERVAÇÕES
1) Amali não é uma mulher submissa. É uma heroína à frente de seu tempo.
2) O livro jamais romantiza estupro. Entre ela e o dono da fazenda não há nenhuma alusão a relacionamento sexual, muito menos algum que tenha sido forçado.
3) A ilustração que muitos estão comentando é do primeiro capítulo. Quem marca a protagonista é um homem cruel que é punido com a morte porque estava seguindo os costumes da época. A ilustração é inspirada numa imagem de livro didático da disciplina de história.
4) Conversando com os meus pares, entendi que a sinopse do livro não apresentou a sua real proposta. Ela será refeita para ser mais focada no verdadeiro objetivo do livro, que é a exaltação da força do povo negro e dos princípios de liberdade e igualdade entre todos, sobretudo entre as mulheres, que são ainda mais discriminadas em todos os tempos e em qualquer cultura.
5) Em função das críticas construtivas que recebi, resolvi alterar o título do livro de “A escrava e a Fera” para “Amali e a Fera”. Fiquei imensamente agradecida com a sugestão.
ASSIM, eu ainda gostaria de agradecer todos que vieram inbox me oferecer o seu apoio em meio a essa confusão toda.
Em primeiro lugar àqueles que conhecem a minha escrita e sabem que esse tipo de abuso jamais seria romantizado por mim e também àqueles que ainda nem me conhecem, mas ainda assim quiseram saber do conteúdo do livro antes de me julgarem.
Não fomentarei nenhum comentário que contenha discurso de ódio, mas estarei disponível inbox para qualquer esclarecimento adicional."
               

Entenda o caso:

     Caso você ainda não saiba do que estamos falando, aqui vai um breve resumo: Ao divulgar a pré-venda de seu novo romance, que tem como temática o período escravocrata do Brasil, a autora recebeu muitas críticas principalmente pelo fato de que a protagonista, uma escrava, desenvolve um relacionamento amoroso com o dono da fazenda para a qual foi vendida.

     Jéssica foi acusada por várias pessoas de romantizar o estupro, o racismo, a tortura, e de que existem algumas afirmações que não coincidem com a realidade da época, entre outras coisas. Porém, dentre vários comentários negativos e até ofensivos, alguns leitores preferiram esperar e ler o livro todo antes de criticar o trabalho da autora.

27 anos, jornalista e fundadora do Portal Estante da Josy

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