20 de março - Dia do Contador de história: Raquel Franchi


Uma mulher religiosa, apaixonada pela literatura, 
pela docência e pela arte de contar histórias 

Nascida em Osasco (SP), Raquel Franchi, atualmente professora do ensino infantil, não imaginava por quais caminhos sua profissão a levaria. Em sua adolescência foi aluna do ensino regular de uma escola na cidade em que nasceu e jamais havia pensado em fazer magistério. Mas a profissão a escolheu. Um colégio da cidade abriu inscrições onde as vagas seriam sorteadas. Raquel se inscreveu para o antigo colegial, equivalente ao Ensino Médio hoje. Mas tamanha foi a surpresa quando soube que tinha sido sorteada para uma vaga no magistério, que era ainda mais difícil de conseguir.

Apoiada pela mãe, decidiu seguir em frente e se viu apaixonada pela área. Ela sempre foi muito envolvida pela literatura, mas foi com o magistério que se encantou pelas histórias infantis.

Raquel sempre foi muito religiosa, por isso participava de retiros da renovação carismática. Em um desses encontros, ela conheceu uma freira e ficou encantada. Ao conversarem, soube mais sobre como é a vida no convento e a devota a convidou para fazer encontros vocacionais, dos quais ela aceitou participar. Não era permitido que ela estudasse no mosteiro, mas a irmã abriu uma exceção e ela finalizou o último ano lá. Ao se formar, passou a lecionar religião no local. No total, permaneceu por quatro anos, após esse tempo, ela decidiu sair e se dedicar na sua profissão. “Foram quatro anos preciosos. Sinto saudade do ambiente porque o silêncio que eu conseguia lá, aqui fora a gente não consegue”.

Quando saiu do claustro, ela foi para o interior. Começou a trabalhar na rede municipal de ensino da cidade onde lecionou informática por cinco anos até que passou no concurso em Racharia (SP) para ser professora efetiva. Ela sempre teve uma preocupação em ter aulas criativas, e quando a diretora percebeu, transmitiu a informação que acabou chegando à secretaria da educação e foi solicitado que ela fosse contadora de histórias em um projeto que tinha na cidade. Foi assim que iniciou a carreira como contadora de histórias há oito anos. “E fui me apaixonando cada vez mais”, conta Raquel.

Por causa da filha, Maria Clara, ela precisou mudar-se para Sorocaba (SP), uma cidade, segundo ela, culturalmente melhor. Ela não conseguia encontrar uma vaga para trabalhar em escolas. Mesmo distribuindo muitos currículos, estava difícil de conseguir. Então foi chamada para trabalhar em uma livraria. Lá ela entrou como operadora de caixa, mas expondo à gerente seu interesse em continuar com sua paixão, logo começou a trabalhar também como contadora de histórias. Ela conciliava as duas funções no mesmo estabelecimento. Raquel aproveitava o momento no intervalo de almoço para se juntar às crianças em uma história e muita diversão.

Todos os sábados, às quatro horas da tarde, ela batia seu cartão para o intervalo, ia se fantasiar e voltava com um grande sorriso estampado no rosto. Após a história, ela sempre interagia com as crianças com pinturas no rosto bem coloridas e cheias de glitter ou com dobraduras. E nos últimos minutinhos que sobravam antes de retornar seu trabalho no caixa, ela comia uma fruta e não era preciso de mais para se sentir satisfeita. “Me tornei uma apaixonada por contação de histórias. Porque você pode ver o quanto influencia a criança e o quanto esse encantamento é importante. É uma forma de você encantar, ensinar e levar reflexão”, descreve Raquel.

Quando ela conseguiu a tão desejada vaga em uma escola como professora, deixou o caixa, mas se manteve na livraria como contadora de histórias. “Foi muito enriquecedor e um meio de aprendizagem também”.

Assim que começou no colégio, colocou a contação de histórias como uma ferramenta da aprendizagem para incrementar as aulas. Raquel não realiza a atividade apenas com livros, mas também trabalha com um material lúdico: fantasias, chapéu, fantoches... E esse é um dos diferenciais dela. Raquel relata que já ouviu de outros contadores que isso atrapalha a atenção, mas discorda, afirma que isso ajuda as crianças a entrarem no encanto.

Através desse encanto, ela consegue das crianças um combinado inicial. Elas já conseguem ouvir a história em silêncio e sabem formar uma roda de conversa. Raquel procura levar sempre histórias reflexivas que podem passar algum ensinamento aos pequenos. Inclusive sobre assuntos como respeito aos colegas.

Ela procura reproduzir histórias dos livros que já leu, mas explica que se houver necessidade, pode inventar a história também.

“Os alunos ficam me imitando”

Raquel construiu um cantinho da leitura em sua sala de aula. Na estante, há caixinhas com gibis, revistas e histórias infantis. Quando os alunos terminam as atividades ou no final do dia, ela deixa livre para eles pegarem esses livrinhos. “São crianças de quatro anos, mas ficam por volta de quinze minutos olhando os livrinhos”, relata; Raquel conta ainda que como as crianças ainda não sabem ler, elas ficam inventando novas histórias com animação e de forma espontânea. “E aí eles me imitam contando histórias um para os outros. Eles olham os desenhos e criam histórias usando o vocabulário erudito que eu uso nas contações”, diz.

Às vezes até ela se surpreende com o vocabulário deles quando usam palavras mais complexas e até as mães comentam com ela que o filho chegou em cada falando uma palavra nova e quando questionado sobre onde aprendeu, ele relata que foi através das histórias que a Raquel conta.

Segundo Raquel, as crianças gostam muito das histórias teatrais das quais eles participam, como Romeu e Julieta, em que a professora conta a história e depois faz a encenação com eles.

Ela tem verdadeira paixão pela docência, mas ainda mais pela contação de histórias, atividade que ela pratica por prazer e muitas vezes de forma voluntária. Ela já tem um escritório em sua casa onde se vê materiais de história por todos os lados. Como uma renda extra, utiliza a contação de histórias em aniversários ou festas infantis onde pode ser contratada. Mas deixa claro que sua função não é realizada só por dinheiro quando se voluntaria em realizar seu trabalho em instituições de caridade.


*Matéria publicada anteriormente em meu TCC em 2017. Decidi trazer essa matéria hoje, dia 20 de março, para celebrar o dia do contador de histórias que é comemorado nesta data. À todos os contadores de história: parabéns por seu dia!

27 anos, jornalista e fundadora do Portal Estante da Josy

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