[Resenha] O passeador de livros - Carsten Henn
Preciso começar este post explicando, primeiramente, o impacto que ele causou em mim. Quero compartilhar minha experiência com a leitura antes de falar sobre a história para vocês entenderem como um todo o que "O passeador de livros" promoveu dentro de mim.
"O passeador de Livros" foi uma das leituras mais delicadas, sensíveis e emocionantes que eu já fiz na minha vida. Sem exageros. E sem dúvidas entrou pra lista dos favoritos que vou panfletar até o fim.
Mas claro que esse livro não é perfeito pra todo mundo. Nenhum livro é. Esse aqui é perfeito para pessoas que, assim como eu, tem uma relação muito próxima e intensa com os livros. Pessoas em que realmente os livros possuem capacidade de mudar a vida. Pessoas que sabem que livros são capazes de nos salvar. Só leitores, leitores assíduos, bookaholics, vão realmente se identificar e sentir essa história em toda a sua intensidade.
Eu chorei muito durante a leitura em uma determinada passagem da história. Eu me identifiquei demais em diversos momentos. Eu me envolvi demais com os personagens. Eu me senti dentro da história de modo em que eu sinto que poderia encontrar o passeador de livros trabalhando passando no centro da cidade e eu certamente o reconheceria.
A história se inicia apresentando nosso protagonista e seu local de trabalho. Carl trabalha há anos em uma livraria. Ele já tem uma idade relativamente avançada, mas trabalhar com os livros é sua maior paixão. Por ter feito isso praticamente durante toda sua vida, não imagina como viveria sem.
Mas sua função na livraria é um tanto diferente. Ao invés de fazer o atendimento presencial, ele recebe encomendas de clientes e vai ele mesmo até as residências entregar. São diversas encomendas, diversos clientes, diversas histórias. Carl já conhece cada um, com seus gostos e particularidades. Ele costuma comparar a vida de cada cliente com de algum personagem que leu e dando a esses clientes o apelido correspondente ao tal personagem.
Em um desses trajetos com destino a casa de mais um cliente, foi surpreendido por uma jovem menina. Muito nova, curiosa e logo percebeu que também era muito inteligente. A garota logo revelou que sempre o via passar na rua e tinha o apelidado de "O passeador de livros". De início, Carl ficou preocupado de ter uma criança o acompanhando mas, depois de muita insistência, ele acabou cedente.
Acabou que essa companhia foi mais do que necessária e ele nota que ela não é apenas uma garota aleatória que cruzou o seu caminho. Ela faz parte de algo maior. Assim como livros que às vezes iniciamos a leitura despretensiosamente e logo ela se revela supreendente, muda nossa visão de muda, nossos caminhos, nossas vidas.
Não vou contar mais do que isso, vou apenas dizer que a história segue cada vez mais interessante. A cada capítulo conhecemos uma nova história, vamos nos conectando cada vez mais com diversos personagens e, principalmente, com nossos protagonistas. Cada história, cada relato, cada palavra... De um poder absoluto para quem ama histórias, para quem ama livros.
Foi uma experiência de leitura surpreendente. Completa. Revigorante. Há tempos eu não lia algo que me impactava tanto, que me fazia desengavetar tanto post-its.
Eu senti que o livro foi escrito para mim. Muitos trechos se assemelhavam tanto a minha vida pessoal que era inacreditável que o autor não me conheça. A quantidade de "coincidências" com a pessoa que eu sou, com as coisas que desenvolvo, causaram uma conexão muito forte.
Eu nunca havia eleito um livro de cabeceira antes. Até agora.
E, como mencionei anteriormente, usei muitos post-its para marcar trechos que mexeram comigo. E foram muitos. E agora eu gostaria de compartilhar alguns desses textos com vocês, então aí vai. Espero que se encantem e coloquem essa leitura no topo de prioridade. O passeador de livros merece sempre o topo.
"A palavra escrita nunca vai acabar, sra Schäfer. Existem coisas que simplesmente não dá para expressar de outro jeito. E o livro impresso ainda é a melhor maneira de preservar pensamentos e histórias. Os livros perduram por séculos e séculos.", pág. 13
"Alguns pensamentos contidos entre capa e contracapa podem ser um veneno, embora seja muito mais frequente o papel conter a cura - às vezes, para certas coisas que nem imaginamos que precisam ser curadas.", pág.15
"Livros são mil vezes mais perigosos do que sorvete. Eles podem estragar a cabeça de uma pessoa. Ou, pior ainda, podem estragar o coração.", pág. 84
"Assim como uma pessoa não pode ser amiga de todo mundo, não existe um livro que agrade a todos, sabe? E, se existisse, seria um ruim. Cada indivíduo é único. Para ser amigo de todo mundo, você precisaria ser alguém sem personalidade, que não entrasse em conflitos. E, ainda assim, nem todo mundo gostaria de você. As pessoas diriam que falta justamente a personalidade, entende? A mesma coisa vale para os livros. Uma história que alguém ama de paixão pode ser completamente sem graça para outra pessoa.", pág. 85
"-Ah, bem, independente de quantos livros a pessoa leia, sempre existem muitos mais que ela não leu, o que é triste. Quem ama ler nunca tem tempo o bastante, mesmo que queira poder ler todas as boas histórias que existem no mundo.", pág. 94
"Deixar as palavras erradas para um homem das letras seria como entregar a um chef de cozinha um prato mal preparado tendo seguido sua receita.", pág. 104
"A Palavra de Deus é a mais poderosa das armas - explicou e, percebendo a dúvida nos olhos de Carl e Schascha, acrescentou: - E se colocar a Palavra no coração da pessoa não for o bastante... Ela sempre pode ser arremessada na cabeça da pessoa.", pág. 168
"Foi bom ir embora. Foi fácil. Quando não pensamos nas consequências, nas brigas que virão, nas feridas que carregaremos, ir embora é muito fácil. Basta dar um passo após outro para sair de uma casa, e também de um casamento.", pág. 170
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