[Artigo] Cenário de dependência tecnológica

Imagem: Reprodução

E se nós fossemos classificados por uma linha de popularidade? E se a nossa popularidade fosse construída por um meio digital, a partir de classificações em estrelas? Essa ideia faz parte de uma ficção apresentada por uma série britânica onde o episódio "Queda livre", eles exploram um futuro que, observando como o nosso mundo está, pode se perceber que esta realidade já está sendo refletida nos tempos atuais.

Um aparelho que antes servia para permitir a comunicação com pessoas à distância, hoje permite que façamos muito mais coisa tendo apenas ele em mãos. Ele te acorda de manhã, te lembra dos compromissos, te ajuda a chegar a lugares que não conhece, faz cálculos por você, tira fotos e as armazena, te mostra às horas, te permite assistir filmes, edita imagens e áudios, te entretêm em jogos, te ajuda em pesquisas de todos os tipos e ainda cumpre bem o seu papel inicial: te permite comunicar com outras pessoas em diferentes lugares do mundo. Não só mais por voz, mas por imagem e por vídeo também. Com tantas utilidades é fácil perceber porque o ser humano se vê cada vez mais dependente desse aparelho, que tem cada vez mais se tornado uma extensão do nosso corpo.

Fato que já se pode ser comprovado com uma pesquisa publicada no final de 2015 pelo IBGE que afirma que 77,9% dos brasileiros possuem um aparelho celular. Em outra pesquisa, também de 2015, realizada pela UIT, afirma que existem 3,2 bilhões de pessoas conectadas a internet. Observe ao seu redor. O que você vê? Celulares usando pessoas a todo o momento? E agora me fale de você, quanto tempo por dia passa no celular? Consegue sair de casa sem ele? É isso mesmo. E isso não é uma fase, isso são as primeiras etapas de uma nova era, que além de tecnológica, é superficial.

Em uma época completamente digital, as pessoas estão cada vez mais imersas nesse mundo e preocupadas em receber "likes" em suas fotos, comentários e classificações cinco estrelas. A partir dessas avaliações o indivíduo é classificado na sociedade. Se ele é popular nas mídias digitais, todo mundo quer acompanhar, todos querem proximidade. E se você não tem uma conta das redes sociais, você não existe. Se você recebe um "Like", você passa o resto do dia seu feliz, sentindo-se importante. Se você recebe uma reação ou comentário negativo, isso acaba com seu dia.

Vendo esses números e esses comportamentos, não é difícil nos imaginar vivendo em um futuro próximo como na se´rie, onde para comprar um novo carro ou imóvel, você precisará ter uma classificação mínima. Para se relacionar com outras pessoas, ela precisará estar no mesmo nível de popularidade que você, como se fosse da mesma classe social. Que para ter assunto com alguém, você precisará dar uma rápida cheada no perfil dela.

A série é uma poderosa crítica à situação atual da sociedade por tratar de forma bem escancarada o que ninguém pode negar: o ser humano está cada vez mais dependente das máquinas. E nutre uma obessão por esse mundo virtual. Você já não acorda cedo para estudar e conseguir um bom cargo. Você acorda cedo para alimentar as redes sociais atrás de classificações para aumentar sua média, dessa forma você vai ser notado, dessa forma você vai conseguir status suficiente para alcançar uma "vida melhor". A interação nas redes sociais deixa de ser um hobbie para se tornar um estilo de vida. Um exemplo bem sólido de que isso já vem acontecendo são os youtubers e blogueiros, que tornaram essa interação nas redes sociais, uma profissão.

Você é obrigado a expor sua vida. Mas será que sua vida é suficientemente interessante para conseguir classificação necessária? Então você mente e finge uma realidade que não existe. Finge comer determinada coisa só porque é popular. Finge usar determinada marca, mas você nem tem poder aquisitivo para adquirir. Você manipula as imagens para que as pessoas possam enxergar uma melhor imagem de você e te classificarem de forma melhor. Você precisa ser notado, precisa que gostem de você! 

É por isso que na sua rotina doentia em "caça de estrelas" não para. Nunca! Porque você quer chegar a uma estabilidade que te trará uma vida melhor. Mas isso existe? O mundo virtual se mistura com a realidade e se torna a mesma coisa. Não se separa mais os dois mundos. E seria esse mundo melhor? No digital você não recebe calor humano, não consegue ter sua mão segurada, não consegue receber um abraço e muito menos um ombro para chorar. Dessa forma, a citação atribuída ao físico alemão Albert Einsten, preocupa mais a cada dia. "Eu temo o dia em que a tecnologia ultrapasse nossa interação humana, e o mundo terá uma geração de idiotas".

27 anos, jornalista e fundadora do Portal Estante da Josy

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