[Resenha] A Promessa da Rosa - Babi A. Sette
Autora: Babi A. Sette
Nº de páginas: 434
Editora: Vérus
Quantos mal-entendidos uma relação pode suportar? Se existe
um limite, Babi A. Sette chegou bem perto dele com “A Promessa da Rosa” e fez
da minha primeira experiência com uma obra sua quase um teste de resistência
para o emocional da leitora ansiosa que habita em mim. Gosta de um casal com
muitos altos e baixos? Então prepare-se para se apegar e sofrer junto com Kathe
e Arthur.
Essa leitura se tornou singular também porque se trata de uma
nova edição da história não apenas no projeto gráfico, mas na trama também. Babi
avisou em suas redes sociais que, apesar de manter a essência de seus
personagens, essa republicação traria uma versão mais madura deles e,
consequentemente, a forma como reagiriam a certas situações também seria
alterada. Especialmente no caso de Arthur, o Duque de Belmont, conhecido pelo
comportamento que divide opiniões.
Digo isso para explicar que esse não será um post que enumera
as diferenças entre uma versão e outra, já que não li a lançada em 2015 e tudo
que sei a respeito dela vem de comentários e resenhas de outras leitoras e
amigas. Então as comparações ficam por aqui.
Em “A Promessa da Rosa”, a nossa protagonista é Kathelyn
Stanwell, dona e proprietária de um espírito indomável para dizer o mínimo.
Prestes a estrear oficialmente na temporada social de Londres após um período
reclusa por conta de um incidente – divertido e inocente, mas que poderia ter manchado
sua reputação – Kathe acha que um baile de máscaras é a oportunidade perfeita
para reaparecer depois desse longo tempo e claro, explorar a coleção particular
de artefatos da Grécia antiga do Visconde de Withmore. Detalhe: sem que o dono
das peças saiba disso.
Kathe não consegue se controlar, além de ser apaixonada pelo
tema, ela não dispensa uma boa aventura. Então quando finalmente consegue
acesso à sala, tudo o que deseja é aproveitar cada objeto detalhadamente. Ela
só não esperava que encontraria outra pessoa com os mesmos interesses.
Assim que Arthur Harold entrou no salão de baile foi como se
algo o puxasse em direção à jovem de beleza estonteante, ainda que mascarada.
Vestida como a noite, ele notou quando ela habilmente se livrou da horda de
cavalheiros que a cercava em busca de uma migalha que fosse de sua atenção e
seguiu determinada em direção ao escritório do Visconde. Qual não foi a
surpresa quando ele a flagrou usando um acessório de cabelo para destrancar a
porta e bisbilhotar os artefatos que ele próprio levaria para casa no fim da
noite como pagamento por sua vitória sobre Withmore nas cartas. Seria ela uma
ladra?
A atração, assim como a implicância que nasce entre os dois
logo que cruzam o primeiro olhar é imediata. Não demora muito para perceberem
que compartilham as mesmas paixões, afinal não é todo dia que um jovem duque
encontra uma dama fluente em grego.
Uma sucessão de acasos resulta em um novo encontro e nada
como um longo trajeto de carruagem à dois para colocar as coisas em perspectiva
(leitores de romance de época vão me entender). Com uma impulsividade que vai
custar caro mais à frente, Arthur está obstinado a fazer a corte de Kathe, mas
a nossa jovem destemida tem lá suas ressalvas sobre se tornar uma duquesa.
Honestamente, Arthur representa tudo o que ela mais despreza na nobreza, ainda
assim, como ignorar tamanha paixão?
Lembram que lá atrás eu falei sobre mal-entendidos? Pois bem,
Babi tão teve dó e fez a gente de gato e sapato com o desenvolvimento desse
casal superintenso que permaneceu turbulento e cheio de reviravoltas até os
últimos capítulos.
E sim, vamos falar do grande ponto causador de discórdia: o
Duque. Olha, o homem me tirou do sério tantas vezes que eu precisava fechar o
livro e contar até dez. Extremamente passional e acostumado a ter todas as suas
vontades prontamente atendidas, Arthur não sabe lidar com a rejeição e entra em
estado de surto quando precisa encarar a mínima instabilidade em seus planos. Com
uma leve tendência a tirar sempre as piores conclusões, ele quase extrapola a
linha que separa um companheiro tóxico do saudável, mas felizmente o personagem
caminha para uma bela redenção que compensou todo o nervosismo e acabou com meu
estoque de “passação de pano”.
De maneira geral, acho que Kathe teve uma evolução mais
complexa. Ela começa como uma jovem imatura e ingênua, que não consegue medir
as consequências do que fala e faz, mas que cresce de acordo com as pancadas
que vai suportando ao longo do caminho (e não são poucas) ao ponto de perceber
detalhes no comportamento de Arthur que poderiam ser vistos como normais.
“Atos que machucam o outro e que são usados como justificativa por causa da urgência do amor?! Seria poético, se não fosse tão mesquinho.” (p. 405)
Kathe tenta a todo custo se manter fiel a si mesma, o que lhe
custa caro diante de uma sociedade que julga, condena e rejeita mulheres que
não se dobram às suas vontades e não aceitam viverem limitadas ao padrão tido
como correto. Infelizmente, mais de duzentos anos depois do período em que a
história se passa, nós ainda enfrentamos situações semelhantes. Também é
importante alertar para os gatilhos presentes em alguns poucos momentos, nada
muito aprofundado ou altamente descritivo, mas que ainda assim podem afetar
pessoas mais sensíveis.
“O que me intriga nisso é que ela é perfeita, e, por ser perfeita, todos a querem. Então, quando a possuem, ela passa a ser vulgar. Comum. Não é engraçado isso?” (p. 168)
“A Promessa da Rosa” é um daqueles bons exemplos para quem
insiste em afirmar que romances não são literatura de verdade. Com uma escrita
envolvente, delicada e às vezes cruelmente honesta, Babi nos entrega um enredo
com todos os ingredientes de uma boa história de amor e drama ao mesmo tempo em
que se mantém relevante ao expor e nos fazer refletir sobre as diferenças de
tratamento entre homens e mulheres que se perpetuam até hoje.
Nos vemos na próxima! 😊
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