Resenha: Clube do abacate - Mariana Torres
“Clube do abacate; autora: Mariana Torres; publicação
independente; 195 páginas.
A história desse livro descreve em suas páginas a típica
família tradicional brasileira da sua forma mais realista. Com a descrição tão
precisa, automaticamente podemos identificar as críticas a esse modelo de
sociedade. Machista, racista, homofóbica e preconceituosa.
Tendo como protagonista dois irmãos, Juju e Deco, acompanhamos
a vida deles desde crianças até chegar a juventude, as descobertas, os desafios
e as aventuras. E também podemos acompanhar a rotina da família a qual
pertencem que possuem ideais totalmente questionáveis.
Juntos com mais duas crianças, decidem criar um clube chamado
“Clube do Abacate” localizado em uma casa da árvore, mais especificamente em um
abacateiro. Nesse clube, as crianças podem brincar e compartilhar segredos e
sentimentos. Pelos olhos inocentes das duas crianças conseguimos enxergar a maldade
enraizada em nosso entorno que insiste em tentar ser repassada para as próximas
gerações com a palavra “tradição” sendo usada como desculpa.
"Mas o perfeito, infelizmente, tem a tendência desagradável a ficar menos perfeito conforme crescemos."
Todo tipo de preconceito. Elevado em número e grau.
A história incomoda e causa desconforto exatamente por
conseguirmos identificar a realidade nela. Muitas das cenas são difíceis de
engolir, mas é possível comparar com coisas que acontecem ao nosso redor no
nosso dia a dia. A família perfeita apresentada no comercial de margarina não
existe. A realidade são os dedos acusadores, as piadinhas infames e a desvalorização
das mulheres como seres humanos.
A autora trás esse relato que é uma verdade nua e crua.
Parece uma história dos tempos antigos porque é difícil acreditar em uma
sociedade retrógrada em pleno século XXI, mas infelizmente ainda existe. Ainda
existem pessoas que querem manter os “costumes” dos mais velhos, transmitir “tradições”
e continuar disseminando absurdos.
Encarando essas narrações fica ainda mais visível o absurdo de
atitudes de familiares os quais a gente passa pano por ser “sangue do mesmo
sangue”. E ao mesmo tempo vemos que a frase “o fruto não cai muito longe do pé”
que se refere aos filhos serem iguais aos pais, copiando as mesmas atitudes,
não se aplica sempre. Juju e Deco, mesmo muitas vezes sendo influenciados pelos
“conselhos” dos familiares, possuem personalidade e opinião própria e conseguem
distinguir o que é certo do errado, mesmo que às vezes não possam fazer nada a
respeito.
A leitura nos faz pensar, refletir e entender ainda mais
sobre o machismo e racismo estruturado. Contada de forma leve, descontraída,
trás um debate importantíssimo que sempre será muito atual.
Dica mais que anotada, gosto de livros que remetem a familia brasileira, acho que lendo livros assim conseguimos enxergar diversas possibilidades.
ResponderExcluirBeijos.
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