[Resenha] O doce veneno do escorpião: o diário de uma garota de programa - Bruna Surfistinha


O doce veneno do escorpião: O diário de uma garota de programa-Autora: Bruna Surfistinha- Editora: Panda Books- Lançamento: 2005- Páginas: 168

O doce veneno do escorpião vai contar a vida de Raquel, melhor dizendo, Bruna Surfistinha; uma adolescente que sai da casa dos seus pais e mergulha de cabeça no mundo da prostituição. Raquel, uma menina inexperiente e depressiva, não tinha a liberdade que ela tanto almejava, então ela passou a comportar-se mau, assim, começou a roubar, usar drogas e sair escondida. Contudo, em um de seus furtos, o qual deu errado, o seu pai brigou e essa briga foi o estopim para ela sair da própria casa.

Raquel perdida nas ruas de São Paulo procurava uma forma de sustentar-se e ganhar a tão sonhada independência financeira. Dessa forma, ela embarca em uma vida, até então, desconhecida e começa a trabalhar em bordeis mentindo sobre sua idade. A menina não tem vergonha de admitir sua inexperiência, mas, também, não tem vergonha de tentar o desconhecido e, assim, ela passou a adquirir mais conhecimento do que fazia, deixando de ser a Raquel e passando a ser Bruna. Essa mudança de nome é muito importante, pois indica a transição da personagem, ou seja, o abandono ao seu antigo eu e a conformidade com a atual vida.

O que pode ser excitante para muitas garotas como eu, na efervescência dos vinte anos, para mim é rotina... Bruna nasceu para o sexo.”

O que me incomoda nesse livro é como a autora generaliza um todo, quando fala de relacionamentos, baseando apenas em suas experiências de vida, as quais não foram poucas, mas não deixa de ser errado e equívoco. Ademais, outro infortúnio é a maneira que ela retrata, romantizando, o quão desejada ela passou a ser na prostituição e a forma que ela sentia-se “realizada” com isto, pois em sua pré-adolescência os meninos não olhavam para ela como olhavam agora, o que me leva a questionar sobre seu amor próprio.

Mas gosto do que faço, não nego. Faz eu me sentir desejada, coisa que eu nunca fui.

Entretanto, Bruna faz uma promessa nesse livro, ela promete publicá-lo apenas quando virar “ex de tudo isso”, ou seja, quando abandonar a prostituição. Portanto, Bruna publicou o seu diário para que as pessoas pudessem lê-lo, ela não nega o seu passado, mas usa-o como aprendizado. Bruna é, somente, Bruna agora, sem programa e sem Raquel, tudo virou passado e ela vive ao máximo o seu presente. Entretanto, caso formos avaliar a Raquel, veremos que ela era uma garota muito problemática. A decisão de prostituir não me parece tão estranha quando se leva o seu passado em consideração, visto que a sensação de abandono, o fascínio pelo dinheiro, a vontade de ser desejada, a crença de que as coisas no mundo são fáceis, por ter sido mimada, colaborou na sua decisão. Assim sendo, Raquel passou por tudo isso por escolha própria. Não vejo, nem de longe, que seria uma história de superação, mas sim de uma pessoa que cansou da vida anormal, melhor dizendo, uma vida diferente das dos demais e que, somente agora, resolveu abandonar. Esse livro é apenas um conjunto de informações sobre a vida de uma garota de programa, é uma história de verdades e ganhou atenção, pois poucas pessoas discutem sobre o assunto e, assim, faz com que muitos queiram saber.



27 anos, jornalista e fundadora do Portal Estante da Josy

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