[Resenha] O mundo de vidro - Maurício Gomyde
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Preciso começar dizendo que essa obra é um verdadeiro
chick-lit versão masculina. Eu já imaginava que o livro me divertiria muito
quando começou com o prefácio em que o autor o descrevia como “predifícil”,
pela dificuldade em realizar essa apresentação que por vezes é tão cobrada em
um livro. Além disso, ele utiliza de diversos sinônimos só para deixar essa
introdução maior, com mais de uma página e assim parecer que é importante. Com
um prefácio assim tão irreverente, eu já sabia que a trama seria cômica e
inédita.
A narrativa acontece por meio “D’Ele” e “D’Ela”, duas pessoas
totalmente diferentes uma da outra. Ele é um cara bem comum, com uma aparência
comum e com um emprego comum, do tipo que não chama nenhuma atenção. Já ela é
deslumbrante, com uma aparência que não passa despercebida, com uma carreira
incrível e com uma vida de dar inveja. Essa mulher era extremamente cobiçada,
por isso não deu a menor importância quando Ele se sentou ao lado dela no metrô
tentando puxar conversa.
A primeira vez que Ele tinha a visto havia sido na TV em uma
reportagem de ano novo. Ela estava bêbada e comemorava o noivado ao lado do
homem que ela julgava ser o amor de sua vida. Ela parecia irradiante. E muito
linda.
Quando ele a viu novamente no metrô, na rotina diária ao
caminho do trabalho, ele soube que estava apaixonado. Mas foi difícil uma
aproximação. Até que resolveu matar o trabalho e segui-la, descobrindo assim
que ela estava indo para um colégio. Determinado a ficar mais próximo dela, Ele
se matricula na aula de “Economic Business”, crente de que fosse uma aula
simples, talvez uma aula de “economia de buzinas”. Mas tamanha foi a surpresa
dele quando chegou e descobriu que ela era a professora.
Ele tentou se fazer ser notado e conseguiu. Talvez não da
forma que esperava. Ele começou a usar roupas extravagantes que um vendedor de
uma loja de vestuários garantiu que era a última moda da Europa. E também
começou a leitura de um livro que ensinava como ele deveria agir para
conquistar a amada.
Seguindo todas essas instruções, ele conseguiu cada vez mais
se aproximar. Mas ele estava muito apaixonado. Ele só pensava nela, dia e
noite, tudo que fazia era por ela, todo o futuro era baseado nela. Seu
papagaio, que antes só sabia servir como despertador usando apenas a frase “Acoooorda,
féla da puta”, incrementou o repertório com pérolas ainda melhores. (Esses
bichinhos sempre aprendem com mais facilidade o que não deveria, né?). E então
ele escreve uma música belíssima para ela.
Mas quando ela vai até a casa dele, disposta a dar uma chance
pelo menos para a amizade que estava se formando, ela encontra as folhas em
cima da mesa com a composição. Ela insiste que ele revele quem é a musa inspiradora
daquela canção e quando ele confessa ser ela, ela foge.
Ela havia rompido o noivado quando descobriu que o sujeito a
traia, era recente o término quando Ele se inscreveu no curso em que dava aula.
Saber que Ele havia se apaixonado por ela tão rapidamente a deixou muito
assustada, por isso achou que o ideal seria se afastar.
Mas logo ela começou a receber em seu endereço de e-mail
capítulos de um livro sem autor. O livro, intitulado “O mundo de vidro”,
narrava uma história instigante sobre um casal que construía diariamente um mundo
de vidro só para eles. E dentro dele, viviam intensamente esse amor. Cada vez
mais curiosa, Ela tentava obter respostas do autor misterioso sem sucesso.
Em um determinado momento, ela toma consciência que talvez
não tenha agido da melhor forma e tenta resgatar a amizade que afastou. Então,
assim como Ele pegava o metrô esperando encontra-la, Ela fez o mesmo e, quando
o encontrou, tentou uma reaproximação pedindo desculpas.
“’Rá, bonito, né? Agora vai ficar achando que é assim? Pisa, trata mal, despreza, volta com o noivo, faz sexo quando bem entende e quando está sozinha e solitária volta correndo com o rabo entre as pernas pro papai aqui? Tá achando que eu sou igual a sapo cururu, que por mais que tu chute ele sempre volta pulando rapidinho? Tá achando que eu tenho cara de bumerangue, que tu joga e ele volta pra tua mão a hora que tu quer? Tu tá sonhando que eu sou igual a bola de boliche, que tu alisa, enfia o dedo, manda embora e ela volta deslizando pra tu alisar, enfiar o dedo e mandar embora pela segunda vez? E tu tá maluca pensando que eu sou fácil e compreensivo só porque você tem um rostinho bonito, é gostosa, cheirosa, inteligente, delicada, perfeita, é a mulher da minha vida e vem com essa voz doce e maravilhosa fazendo essa cara de cachorrinho triste pedindo perdão?” – pensou
-Ei, que cara é essa? – perguntou ela.
-Ahn? Nada não. Eu já tinha te perdoado lá no “com licença”.’”
Cenas como essa acima são bem frequentes na trama e proporcionam
diversas risadas, é por isso que comecei dizendo que é um chick-lit masculino.
É um tipo de escrita que eu ainda não tinha tido acesso e gostei demais. O
protagonista é hilário e muito real. Não é do tipo perfeitinho, é do tipo cara
comum, com características de um homem comum. Talvez um pouco mais atrapalhado
do que o normal, mas ainda assim é um cara comum, com alguns pensamentos que
até poderiam ser encarados como machista. Ele se esforça muito para conquistar
a garota dos seus sonhos sem pensar nas consequências. E as cenas ocasionadas
por essa espontaneidade é o que mais diverte.
O livro envolve um suspense que eu ainda não consegui
desvendar muito bem então, se você já leu esse livro eu IMPLORO para vir
conversar comigo. Estou quase mandando um e-mail para o autor, mas não quero
que ele ache que sou lenta demais para entender as analogias. De qualquer
forma, só o fato de eu ter rido muito e ter tido muita vergonha alheia em
diversos trechos, já faz dessa história incrível. E confesso que estou
encantada por Ele e Ela e gostaria muito mesmo de uma continuação.
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