[Resenha] O mundo de vidro - Maurício Gomyde

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“O mundo de vidro”; autor: Mauricio Gomyde; Editora Porto 71; 205 páginas.
     Preciso começar dizendo que essa obra é um verdadeiro chick-lit versão masculina. Eu já imaginava que o livro me divertiria muito quando começou com o prefácio em que o autor o descrevia como “predifícil”, pela dificuldade em realizar essa apresentação que por vezes é tão cobrada em um livro. Além disso, ele utiliza de diversos sinônimos só para deixar essa introdução maior, com mais de uma página e assim parecer que é importante. Com um prefácio assim tão irreverente, eu já sabia que a trama seria cômica e inédita.
     A narrativa acontece por meio “D’Ele” e “D’Ela”, duas pessoas totalmente diferentes uma da outra. Ele é um cara bem comum, com uma aparência comum e com um emprego comum, do tipo que não chama nenhuma atenção. Já ela é deslumbrante, com uma aparência que não passa despercebida, com uma carreira incrível e com uma vida de dar inveja. Essa mulher era extremamente cobiçada, por isso não deu a menor importância quando Ele se sentou ao lado dela no metrô tentando puxar conversa.
     A primeira vez que Ele tinha a visto havia sido na TV em uma reportagem de ano novo. Ela estava bêbada e comemorava o noivado ao lado do homem que ela julgava ser o amor de sua vida. Ela parecia irradiante. E muito linda.
    Quando ele a viu novamente no metrô, na rotina diária ao caminho do trabalho, ele soube que estava apaixonado. Mas foi difícil uma aproximação. Até que resolveu matar o trabalho e segui-la, descobrindo assim que ela estava indo para um colégio. Determinado a ficar mais próximo dela, Ele se matricula na aula de “Economic Business”, crente de que fosse uma aula simples, talvez uma aula de “economia de buzinas”. Mas tamanha foi a surpresa dele quando chegou e descobriu que ela era a professora.
     Ele tentou se fazer ser notado e conseguiu. Talvez não da forma que esperava. Ele começou a usar roupas extravagantes que um vendedor de uma loja de vestuários garantiu que era a última moda da Europa. E também começou a leitura de um livro que ensinava como ele deveria agir para conquistar a amada.
    Seguindo todas essas instruções, ele conseguiu cada vez mais se aproximar. Mas ele estava muito apaixonado. Ele só pensava nela, dia e noite, tudo que fazia era por ela, todo o futuro era baseado nela. Seu papagaio, que antes só sabia servir como despertador usando apenas a frase “Acoooorda, féla da puta”, incrementou o repertório com pérolas ainda melhores. (Esses bichinhos sempre aprendem com mais facilidade o que não deveria, né?). E então ele escreve uma música belíssima para ela.
     Mas quando ela vai até a casa dele, disposta a dar uma chance pelo menos para a amizade que estava se formando, ela encontra as folhas em cima da mesa com a composição. Ela insiste que ele revele quem é a musa inspiradora daquela canção e quando ele confessa ser ela, ela foge.
     Ela havia rompido o noivado quando descobriu que o sujeito a traia, era recente o término quando Ele se inscreveu no curso em que dava aula. Saber que Ele havia se apaixonado por ela tão rapidamente a deixou muito assustada, por isso achou que o ideal seria se afastar.
    Mas logo ela começou a receber em seu endereço de e-mail capítulos de um livro sem autor. O livro, intitulado “O mundo de vidro”, narrava uma história instigante sobre um casal que construía diariamente um mundo de vidro só para eles. E dentro dele, viviam intensamente esse amor. Cada vez mais curiosa, Ela tentava obter respostas do autor misterioso sem sucesso.
     Em um determinado momento, ela toma consciência que talvez não tenha agido da melhor forma e tenta resgatar a amizade que afastou. Então, assim como Ele pegava o metrô esperando encontra-la, Ela fez o mesmo e, quando o encontrou, tentou uma reaproximação pedindo desculpas.

“’Rá, bonito, né? Agora vai ficar achando que é assim? Pisa, trata mal, despreza, volta com o noivo, faz sexo quando bem entende e quando está sozinha e solitária volta correndo com o rabo entre as pernas pro papai aqui? Tá achando que eu sou igual a sapo cururu, que por mais que tu chute ele sempre volta pulando rapidinho? Tá achando que eu tenho cara de bumerangue, que tu joga e ele volta pra tua mão a hora que tu quer? Tu tá sonhando que eu sou igual a bola de boliche, que tu alisa, enfia o dedo, manda embora e ela volta deslizando pra tu alisar, enfiar o dedo e mandar embora pela segunda vez? E tu tá maluca pensando que eu sou fácil e compreensivo só porque você tem um rostinho bonito, é gostosa, cheirosa, inteligente, delicada, perfeita, é a mulher da minha vida e vem com essa voz doce e maravilhosa fazendo essa cara de cachorrinho triste pedindo perdão?” – pensou
   -Ei, que cara é essa? – perguntou ela.
   -Ahn? Nada não. Eu já tinha te perdoado lá no “com licença”.’”

    Cenas como essa acima são bem frequentes na trama e proporcionam diversas risadas, é por isso que comecei dizendo que é um chick-lit masculino. É um tipo de escrita que eu ainda não tinha tido acesso e gostei demais. O protagonista é hilário e muito real. Não é do tipo perfeitinho, é do tipo cara comum, com características de um homem comum. Talvez um pouco mais atrapalhado do que o normal, mas ainda assim é um cara comum, com alguns pensamentos que até poderiam ser encarados como machista. Ele se esforça muito para conquistar a garota dos seus sonhos sem pensar nas consequências. E as cenas ocasionadas por essa espontaneidade é o que mais diverte.
    O livro envolve um suspense que eu ainda não consegui desvendar muito bem então, se você já leu esse livro eu IMPLORO para vir conversar comigo. Estou quase mandando um e-mail para o autor, mas não quero que ele ache que sou lenta demais para entender as analogias. De qualquer forma, só o fato de eu ter rido muito e ter tido muita vergonha alheia em diversos trechos, já faz dessa história incrível. E confesso que estou encantada por Ele e Ela e gostaria muito mesmo de uma continuação.

27 anos, jornalista e fundadora do Portal Estante da Josy

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