[Resenha] Razão e sensibilidade - Jane Austen
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“Razão e sensibilidade”; autora: Jane Austen;
Editora: Martin Claret; 398 péginas.
A resenha de hoje é sobre um dos
clássicos da literatura mundial, principalmente do gênero literário “Romance de
Época”. Razão e Sensibilidade, lançado em 1811, foi o primeiro livro de Jane
Austen a ser publicado e, apesar de seus mais de duzentos anos de idade, trata
de assuntos relevantes que podem ser facilmente relacionados a questões atuais
e recorrentes do século XXI.
Razão e
Sensibilidade nos conta a história de Elinor e Marianne, as irmãs Dashwood.
Após a morte do pai (fiquem tranquilos, isso não é spoiler) elas se veem
obrigadas, junto à mãe e a irmã mais nova, a mudarem de vida. Na época os títulos
de nobreza, que geralmente vinham acompanhados de grandes propriedades e
bastante dinheiro, eram herdados obrigatoriamente pelo primogênito da família,
ou seja, o filho homem mais velho (e ainda hoje, as filhas de nobres lutam para
mudar essa lei sexista e reaver seus direitos) recebia tudo e podia ou não
prover o sustento das irmãs, irmãos mais novos ou de quem mais pudesse depender
dele.
No caso das
nossas personagens, tudo o que o pai deixou passa para John, o filho mais velho
e do primeiro casamento. Agora a Sra. Dashwood e as filhas dependem da boa
vontade do irmão em sustentá-las. Sem muito apreço por elas e muito
influenciado pela esposa, ele destina às irmãs uma quantia mínima para que
continuem a usufruir do mínimo de conforto ao qual estavam acostumadas, o que
as permite alugar um chalé na propriedade de Sr. Middleton, primo distante da
mãe. Então, quando as Dashwood se mudam de Norland para Barton, as relações
amorosas, de amizade e familiares começam a se desenvolver e novos personagens
entram nas vidas das irmãs.
Na sociedade
aristocrática da Inglaterra Georgiana, tradicional ao extremo e movimentada por
uniões matrimoniais, nesse momento elas eram consideradas pobres. Não ao ponto
de precisarem trabalhar para sobreviver, o que para a posição que ocupavam era
impensável, ou melhor, nem chegou a ser uma hipótese, mas de não terem um dote,
o que significava não poder realizar um bom casamento. E quando os interesses
amorosos das personagens começam a se desenrolar a situação financeira delas
sempre é uma questão a ser considerada.
Podemos associar
o título do livro às personalidades das irmãs, Elinor é mais racional e
prática, enquanto Marianne é sensível e passional. Porém ao longo da história
elas são postas em situações que colocam essas características à prova e até
transformam um pouco a forma como cada uma se relaciona com o mundo e
principalmente com as pessoas que as cercam, o que acredito, tenha influência
sobre o desfecho da obra.
Em relação a
escrita da autora, não se assuste, a leitura de Razão e Sensibilidade não é
nenhum bicho de sete cabeças, mesmo datando do fim do século XIIX e início do
século XIX. Sim, há palavras rebuscadas e uso da linguagem formal em todo o
livro, mas nada que seja impossível de se compreender. O ritmo é um pouco lento
às vezes, porém as reviravoltas interessantes compensam.
Quanto à
forma como nós leitores encaramos a história é que deve receber maior atenção. É
sempre bom lembrar que na época, coisas como se tratar pelo primeiro nome já
era um sinal de enorme intimidade, quase um noivado, então durante a leitura há
momentos em que atitudes muito pequenas podem ter consequências gigantes e
parecerem infundadas se vistas sob o nosso olhar contemporâneo. Também é
importante estar atento as críticas sutis que Jane Austen faz a essa sociedade
– hipócrita, machista e preconceituosa – daquele período, que geralmente
aparecem nas ironias colocadas nas falas de alguns personagens.
Assim como em
Orgulho e Preconceito, Jane Austen criou uma história envolvente, que nos causa
empatia sobre seus personagens e nos faz torcer por eles. Essa característica
somada à sua escrita primorosa torna essa leitura mais do que recomendada.
Espero que
tenham gostado e até a próxima!
“Não é o tempo, nem a oportunidade que determinam a intimidade, é só a disposição.” p. 67
“[...] o dinheiro só pode trazer felicidade onde não haja mais na que a traga. Além da abastança, ele não pode proporcionar uma satisfação real, no que se refere à nossa interioridade.” p.100
“Às vezes somos guiados pelo que dizemos de nós mesmos e com muita frequência pelo que outras pessoas dizem de nós, sem que paremos para refletir e julgar.” p.103
“Apesar das reformas e das ampliações que estavam fazendo na propriedade de Norland e apesar de seu dono ter estado havia pouco a alguns milhares de libras de distância de ter de vender tudo com prejuízos, não parecia haver nenhum sintoma daquela indigência que ele tentara inferir do caso: não havia nenhuma pobreza, de nenhum tipo, com exceção das conversas – ali, porém, a miséria era considerável.” p.243
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